sexta-feira, 25 de junho de 2010

"Eu acho que muita gente deve estar tendo os mesmos pensamentos que eu, nesse momento. É como se eu fosse um texto em que você só leu o primeiro parágrafo, ou apenas o título, ou até mesmo simplesmente ignorou por não gostar da ortografia do escritor. 
E eu não falo de dor. Eu falo da angústia que é não sentir nada. Eu falo da vontade de chutar a tua porta com as duas pernas e gritar uma porção de coisas nos teus ouvidos até você acordar assustada. Isso já te faria me conhecer um pouco melhor, e saber do que eu sou capaz."


(Lucas Silveira. /beeshop)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Meio fio entre realidade e ilusão

Por Fernanda Machado

Considerado o maior nome da literatura brasileira pelos estudiosos da area, Machado de Assis tem uma extensa obra que no começo tendia para o Romantismo, mas em sua segunda fase foi caracterizada pelo Realismo. Foi nessa última que foi capaz de realizar a primeira narrativa fantástica e o primeiro romance realista brasileiro em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ainda na segunda fase, o autor se especializou na literatura em segunda pessoa, como em Dom Casmurro
Em toda a sua vida literária, Machado escreveu romances, peças teatrais, coletâneas de poemas e sonetos, crônicas, críticas e contos, e é nesse último gênero que ele se inspirou não só em escritores nacionais, mas foi mais além ao ser influenciado por Ernst Theodor Amadeus Hoffmann e Edgar Allan Poe. Dessa forma, criou diversos contos até que começou a escrever os “contos fantásticos” - nome dado por ele mesmo - de conteúdo mágico e sem explicação lógica dos fatos descritos. 
Três de seus maiores contos foram reunidos em um único livro produzido pela EDIFIEO - editora do Centro Universitário UNIFIEO - : Sem olhos, Um esqueleto e A chinela turca. No primeiro conto, Sem olhos, foi publicado em 1876 no Jornal das Famílias. O conto começa na casa do casal Vasconcelos e recebem quatro visitas: o Senhor Bento Soares, Dona Maria do Céu, o bacharel Antunes e o desembargador Cruz. Os seis conversam sobre vários assuntos  rodeando estórias de bruxas, superstições, fantasmas e coisas do gênero. Porém a maioria declara não acreditar e achar que não passa de mera especulação imaginativa. Assim, o desembargador Cruz aguçou a curiosidade dos demais afirmando que ele teve uma experiência que nunca se esquecera. Após a descrição do ocorrido - viu uma moça sem olhos que já havia morrido, mas depois descobriu que quando viva, nunca teve seus olhos arrancados - ficou visível que todos permaneceram pensativos sobre a descrença no sobrenatural. 
Ao terminar de ler, fiquei me perguntando como seria possível alguém ver algo que foi plantado em sua imaginação por outra pessoa? Qual é a real força da nossa imaginação quando somos capazes de criar em nossas mentes algo que outra pessoa descreveu, mas que por impulso de achar verídico, acabamos acreditando?
No segundo conto, Um esqueleto, publicado no mesmo ano e jornal, conta sobre alguns rapazes que conversavam sobre vários assuntos até que um deles, Alberto, comenta sobre o dr. Belém, mas todos afirmaram não conhecê-lo. Sendo assim, esse rapaz começa a contar sobre esse médico e sobre sua suposta história de amor e ciúme. No final, quando todos estão estarrecidos com o desfecho, Alberto declara que dr. Belém nunca existiu. Ao final dessa, fiquei um tempo pensando como me sentiria se fosse aquelas pessoas que estavam escutando Alberto, acreditando que era verdade e depois descobrir que não se passa de uma invenção.  
Por fim, no último conto, A chinela turca, a estória de um bacharel, Duarte, é narrada. O personagem estava se preparando para ir a um baile quando recebe a visita de Major Lopo Alves que afirma ter escrito uma peça literária e gostaria de saber a opinião de Duarte. Assim, Duarte começa a ouvir o Major, mas coisas sem explicação começam a acontecer até que Duarte desperta e percebe que acabou de sonhar com a estória que estava sendo contada por Major. Quando terminei, só consegui pensar em como o conto foi bem escrito pois eu realmente acreditei que Duarte estava vivenciando tudo aquilo.
Com o término dos contos, fechei o livro e refleti como algumas folhas podem fazer nossa imaginação nos tirar de qualquer lugar e nos transportar para onde estamos pensando. Machado de Assis é, realmente, um dos mestres dos contos fantásticos. A cada termino de uma estória, não podia esperar para chegar ao clímax da próxima. O autor proporciona ao leitor uma espécie de êxtase em cada final, e dificilmente um leitor adivinha ou supõe o que vai acontecer no final. Todos, sem excessão, deveriam experimentar um gostinho da literatura machadiana fantástica e degustar da magia, do sobrenatural, da inquietação e da singularidade de seus contos. 

domingo, 20 de junho de 2010

Dúvidas respondidas

Quanto mais tenho, mais quero, mais desejo e mais vejo defeitos. Parece que nada se encaixa. Nada serve, não bate com minhas prioridades e muito menos com as expectativas. De começo gosto. Aprecio. Enxergo todos os pontos positivos. Chego até a me surpreender por um instante. Mas ele logo passa - como sempre. Vai e leva tudo com ele. Vai e parece não voltar cedo. Vai e deixa apenas o sentimento que poderia restar: será sempre assim. Hoje já começo tendo um pressentimento de todas as futuras cenas. Mas esse pressentimento é diferente por já ter vivido aquilo. Tudo aquilo e mais um pouco.
Então se por um momento, voltasse. Mostrasse que estou errada e que minhas conclusões são as mais erradas, quem sabe isso que eu tenho no meio do peito voltasse a acreditar que, as vezes, as coisas acontecem. As vezes realmente dá certo e tudo anda.
Caminho sozinha, corro, penso, angústia. Paro, respiro, tomo fôlego e imagino. Saio de órbita por alguns segundos que parecem eternos. Volto como se a gravidade não me permitisse transcender qualquer limite. Reflito. Me pergunto e me respondo. Chego a conclusão de que é melhor parar de esperar. Cuidar mais de mim que todo o resto é consequência e que se as constelações estiverem tecendo algo para um futuro próximo.. Melhor deixar cada ponto de luz fazer seu trabalho.
O lado certo do errado
Por Fernanda Machado


Miguel de Cervantes Saavedra foi um dramaturgo, poeta e romancista espanhol que, com seus 20 anos, escreveu seus primeiros sonetos e teve a vida muito conturbada. Mudou diversas vezes de cidade, alistou-se no exército, participou de muitas batalhas até que perdeu sua mão esquerda e passou a ocupar cargos mais administrativos. Ao publicar seu primeiro romance, “Galatea” - narrativa em prosa e verso - foi preso com a acusação de desvio de verbas e presume-se que foi dentro da cadeia que ele deu início à sua maior obra considerada hoje parte fundamental da literatura universal: “Dom Quixote de la Mancha”. 
Nos anos seguintes, Cervantes criou apenas algumas comédias teatrais até que escreveu outra obra-prima: as “Novelas Exemplares”, que atualmente é caracterizada como um dos livros de contos essenciais à literatura. O escritor denominou a própria obra como “exemplares”, pois em todos os contos do livro têm mensagens morais, com descrições da realidade espanhola exemplificada e com relatos de situações de perigo e aventura, mas sempre com um “final feliz”. Em seu prólogo, Cervantes afirma que seu único objetivo com a obra era proporcionar a todos divertimento sem qualquer mal, e que se de alguma forma ele induzisse qualquer leitor a ter pensamentos negativos, preferia cortar suas próprias mãos do que publicar uma obra dessa índole.
Todas as novelas da obra se passam na Espanha, porém a que mostra um lado não tão aceitável das cidades, é a novela “Rinconete e Cortadilho”. A estória conta de dois jovens, Pedro del Rincón e  Diego Cortado. Ao se conhecerem vão para Sevilha. Ao arranjarem trabalho na nova cidade, Cortado pensou ter ganhado como pagamento uma bolsa antiga com dinheiro dentro, mas logo depois descobriu que seu último cliente havia lhe dado por engano, pois ele afirmou ter perdido e perguntou a Cortado se ele achou. Cortado disse que não, mas consolou-o dizendo que não demoraria a encontrá-la. 
Em seguida, um homem se aproximou dos dois amigos e os informou que ninguém rouba nada sem que o Senhor Monipódio fique ciente. Dessa forma, os jovens foram apresentados a  ele e esclareceu-se que naquela cidade havia um grupo organizado de furtos, mas que roubavam apenas dos mais afortunados e concretizavam vinganças encomendadas, e que uma parte de seus lucros era reservado para doação e manutenção da Igreja ou de imagens espalhadas pela cidade.  Assim, os dois foram convidados por Monipódio a juntarem-se ao bando e sem exitar, aceitaram o convite. Em apenas uma noite com Monipódio e seus capangas, Cortado e Rincón mudaram seus nomes para Rinconete e Cortadilho e vivenciaram experiências nunca imaginadas. Descobriram aos poucos os verdadeiros valores e princípios daqueles homens que roubavam, mas que por fazer caridades à Igreja acreditavam com veemência que ainda tinham seus lugares reservados no Céu. 
Mesmo a novela tendo um desfecho sem muitas emoções e surpresas, deixando uma sensação de que talvez poderia ter tido outro final, ela mostra que as primeiras impressões podem, sem dúvida, serem erradas. Não é porque um homem que furta, não tenha um bom coração e defenda com todas as suas forças seus parceiros. Por mais que haja coisas que não acredito serem corretas, como vingar alguém em troca de dinheiro já que ninguém tem o direito de tirar a vida de outro, há algumas passagens na estória que passei a olhar de outra forma. Como, por exemplo, quando uma das moças da casa do Senhor Monipódio chega aos prantos dizendo que foi maltratada por um de seus homens e os outros decretam fazer justiça no mesmo momento. Mas após uma conversa com outra moça, a primeira percebe que aquele homem só a maltratou porque ele se importa com ela e que não daria mais que uma semana para ele pedir desculpas e enchê-la de agrados, que por final foi o que realmente aconteceu. 
Ainda que eu seja contra esse tipo de atitude masculina, se refletirmos as condições, a cultura e os costumes daquela época e cidade, entendemos que aquilo não era nenhum erro fatal. Dessa forma, com a leitura dessa novela abrimos os olhos e começamos a enxergar muitas situações de outras perspectivas, pois nem sempre o que fomos ensinados a seguir é o único caminho.

sábado, 19 de junho de 2010

“A ideia de monopolizar o bem, jogando o mal para os outros, para os que agem e pensam diferente de nós, acompanha a ideia de controlar a verdade. A indiferença moral (desresponsabilização do indivíduo) e a política (passividade) mantêm relações íntimas com os meios de comunicação de massa.”


Tempos indiferentes
Por Fernanda Machado
A distinção cultural do bem e o mal teve seu início há muito tempo. Na Bíblia, Livro de Gênesis, essa diferença foi bem exemplificada quando o homem (Adão) foi tentado pela mulher (Eva) - que anteriormente havia sido tentada pela cobra – a experimentar o fruto proibido, o qual Deus disse para não comer, pois quem o provasse teria o conhecimento do certo e do errado. Aos que não acreditam nessa teoria, essa diferença também pode ser classificada quando qualquer ser vivo é repreendido ou sofre consequências por algo que fez e que está fora das normas já impostas dentro do seu próprio nicho.
Essas normas são impostas dentro de cada sociedade de acordo com seus padrões de organização tendo seus hábitos coletivos, como todo brasileiro ter a tendência de fazer do almoço a refeição mais importante ou de fazer festas de aniversário, e suas regras gerais que são as condutas obrigatórias determinadas para que todos tenham seus direitos e deveres diante de um sistema normativo.  Mas originalmente, nossas culturas não tinham um olhar claro sobre o bem e o dever, pois no imaginário social tudo o que era bom era devido. Todavia, naquela época as sociedades não tinham subdivisões sendo um conjunto único de normas obrigatórias. Agora, as culturas têm suas próprias interpretações de algumas regras que ganham significados próprios. Assim, a passividade dos diferentes governos em relação a algumas normas fica bem acentuada, já que só cobram da população o que lhe são de maior interesse. 
Mas a política não tem toda a culpa, pois muitas atitudes deixam de ser cobradas pela indiferença moral das pessoas. Cada época é marcada e caracterizada por uma virtude e um vício que a faz ter pontos positivos ou negativos. A virtude da geração atual é o desenvolvimento intelectual, com os avanços da internet e da comunicação, mas seu vício é a grande indiferença do indivíduo. Vemos claramente nas mídias, de maneira escancarada a corrupção e a ousadia. Pessoas que estão no poder se acham no direito de zombar indiretamente da população, desrespeitando qualquer índice de opinião. Famílias assistem a queda de sua geração mais nova. Pais que vêem seus filhos se tornarem pessoas de má índole. Mães que simplesmente abandonam seus filhos em latas de lixo como se fossem descartáveis. Pessoas que se dizem injustiçadas, mas que invadem propriedades alheias não se importando com a futura situação dos moradores presentes. Civilizações inteiras são massacradas e quase exterminadas por interesses mesquinhos ou até sem nenhuma razão. 
Isso tudo acontece diariamente, nem metade dos casos são realmente relatados, e os veículos de comunicação passam a imagem de apenas informar e atualizar a população, mas indiretamente criam uma opinião formada para os receptores. Dessa forma, se os veículos de comunicação não incentivam a sociedade a tomarem providências, a população vai continuar assistindo de camarote o planeta se perdendo dentro dele mesmo. As pessoas não parecem se importar muito com o que assistem toda noite no conforto do seu sofá. E então, essa indiferença com o próximo aumenta como uma avalanche, tornando a sociedade cada vez mais egoísta, insensível e com suas divisões mais acentuadas.
Porém, o pensamento “se aconteceu com ele, é porque mereceu” acaba se tornando um dos principais argumentos para os que acreditam que nada os atinge e que só toma as atitudes corretas. Mas eles não sabem diferenciar algo realmente errado e injusto de algo diferente de seus costumes. Os que afirmam que tudo o que não é igual ao seu grupo não é bom, são os mesmos que tentam monopolizar a verdade tornando-a única e inquestionável. Dessa forma, qualquer indivíduo que discorde ou apenas não siga as normas pré-determinadas, sofre de inúmeras repressões e preconceitos sem ter ao menos o direito de se defender, pois os repressores são pessoas que têm interesses próprios para se auto-enaltecer como, por exemplo, os políticos já citados. Eles criam uma própria ideologia e transmitem-na para o maior número de pessoas possíveis, acreditando veementemente que todos são de acordo porque aquela é a verdade e impõe um tipo de pensamento único que se todos seguirem serão pessoas “melhores”.
Sendo assim, a política tem seu papel fundamental na formação da opinião de uma sociedade, pois apesar de qualquer circunstância, os donos do poder acabam tendo a palavra final. Já os veículos de comunicação têm a responsabilidade de colher todas as informações possíveis, filtrar e analisar se são verídicas e, por final, transmití-la a população, porém a última não tem garantia de que tudo o que receberá terá um ângulo imparcial da situação. Por conseguinte, cada indivíduo não deve deixar-se levar por opiniões e formas de pensar alheias deixando seu olhar crítico de lado para entrar no senso comum, pois dessa maneira nunca conseguirá sair da atmosfera induzida e entrar na que se é capaz de analisar, questionar, duvidar, discordar e formar a sua própria ideia.  Mas para isso, cada indivíduo deve aceitar que cada pessoa, cada grupo, cada tribo é diferente no seu modo de agir e de pensar. Não é porque uma pessoa, por ser a favor de algo que o outro é contra, que o último deve discriminar e criticar o primeiro. Muito pelo contrário. Ele deve socializar-se para que aprenda com diferentes linhas de raciocínio um modo diferente de observar a humanidade. Evidentemente, se todos agissem de uma forma mais humana com o próximo, as diferentes civilizações entrariam em acordo, saberiam partilhar, ensinar e aprender com as diferenças com uma facilidade inevitavelmente maior.  

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Texto Legenda - 31 de Maio de 2010

                                                                             foto e texto por Fernanda Machado

>> COTIDIANO
Fiéis não se abalam com o frio da capital e continuam deixando a Aparecida do Norte (SP) repleta. Sair antes do sol nascer, assistir à missa, comprar velas de tamanho humano, pagar promessas e fazer pedidos já se tornou um ritual desde a mais antiga até a mais atual geração.

olho vivo
Viajante por obrigação, solidário por paixão


Por Barbarah Salles, Bruna Viel, Bruna Vecchiatto, Caroline Brito, Fernanda Machado


Não gosta de viajar e nem de esporte. Prefere ficar em casa a ter que ir para o outro lado do mundo. Sua profissão já é parte inseparável de sua vida. Conheça  mais sobre esse fotojornalista que sempre espera uma surpresa a cada click.


Das Olimpíadas de Pequim aos crimes registrados no Notícias Populares, o paulista Flávio Florido, atual editor chefe de fotografia do site UOL, construiu sua história no fotojorna-lismo através de suas coberturas em grandes shows, como o Radiohead, passando por eventos como o Miss Brasil e o Festival de Música VMB, além do ramo esportivo como a Copa. 
Em seus 16 anos de carreira viajando pelo mundo, Florido - que já morou em Missouri nos EUA e na pequena cidade de Abingdon na Inglaterra - conta nesta entrevista para o OLHO VIVO sua trajetória desde seu incompleto curso de Letras, até promover uma mudança radical na vida de suas pessoas através de seu trabalho.


OV: O que você fazia antes de começar seus estudos na fotografia?
Eu fiz Letras na USP, mas não cheguei a terminar e então comecei a trabalhar como fotógrafo.
OV: Quando começou o seu interesse pela fotografia?
Foi na primeira viagem pra Inglaterra que eu achei que deveria dividir as coisas com os meus amigos e a maneira que eu encontrei foi através da fotografia. Aí comecei a fotografar e quando trouxe pro Brasil as pessoas elogiavam bastante e falavam: que legal as suas fotos, você deveria estudar fotografia. Aí eu fui estudar. 
OV: É bem difícil crescer na profissão de fotojornalista, de ser reconhecido e tudo mais. Pra você, o que foi mais difícil nesse crescimento? 
Bom, eu não me considero conhecido. Eu acho que eu sou como qualquer outro, mesmo muita gente dizendo o contrário. Então eu acho que tudo esta muito ligado na dedicação. Eu sempre fui muito correto, sempre trabalhei muito, e a gente passa a dedicar sua vida a isso. Então primeiro é você saber o que quer e se dedicar e conseguir alcançar um lugar, e depois disso acho que é natural, vem como consequência o reconhecimento. 
OV: O que você acha dos programas de tratamento de foto, os famosos Photoshops?
Isso é uma coisa muito complexa. Porque o ser humano nunca quer ver o que é real. Ele sempre tem uma imagem criada dentro da cabeça, então no jornalismo a gente tem que pensar que isso não pode acontecer, por que você não tem que alterar nada. Pois você já altera com a sua forma de ver, dá um tom pessoal pra foto. Então o bom fotógrafo é aquele que não aparece na foto. E o que acontece sempre comigo é mostrar uma foto e a primeira pergunta é: Você que fez? E isso é muito bom porque tem foto que você olha e você já sabe quem fez, fotos que vocês na vida toda. por exemplo eu já cheguei a fazer cinco mil fotos em um dia só. E agora ainda tem a facilidade da fotografia digital que permite que você faça mais e é bem importante isso. Na minha época era com filme e eu chegava a gastar 100 rolos de filme em uma viagem. 
OV: E teve algum show que você mais gostou?
Ah, eu gostei muito do Sex Pistols. Foi o mais bacana.
OV: Você fez muitas fotos esportivas. Você considera alguma modalidade mais interessante de ser fotografada?
Eu acho que a gente nunca pode estar vinculado a uma preferência. E eu também nunca gostei de esporte. Eu não queria, de maneira alguma fotografar esse campo. Mas eu fui obrigado, porque meu chefe mandou. Ele quis que eu surpreendesse através de uma fotografia nova e que não estivesse com vícios de ter sempre a mesma fórmula. Então essa coisa de você tentar ver as coisas de uma forma diferente é muito interessante e não estipular aquilo que você não gosta. Eu prefiro dizer que eu gosto daquilo que eu não sei o que é, pois isso vai trazer sempre uma surpresa e o que eu espero da fotografia é a surpresa. Porque se você já tem algo pré-estipulado, você não vai tentar achar algo fora daquele padrão. 
OV: E como foi a experiência de cobrir as Olimpíadas de Pequim?
Uma loucura! Porque você não dorme, não come. É dedicação total ao trabalho. E também tem a questão da língua que dificulta um pouco, mesmo eu tendo influência inglesa e não tendo tanta dificuldade assim, mas chinês não fala inglês né? Olimpíada é realmente o mais complicado. Copa nem tanto porque é tudo mais parecido, os horários e tudo mais, mas Olimpíadas você não tem tempo pra nada. É muito cansativo.
OV: E a Copa de 2006?
Foi legal, mas pena que o Brasil perdeu né? (risos)
OV: Mas teve algum momento que você achou mais emocionante, mesmo que não tenha sido em jogo do Brasil?
Ah, o que eu me lembro muito bem foi a vez que a mulher invadiu o treino do Brasil e foi abraçar o Ronaldinho e que eu fiz essa foto - foi bem emocionante. E a vontade de vir embora! Porque normalmente todo mundo gosta de viajar, mas eu acho que sou uma das poucas pessoas que não gostam porque eu vinculo sempre ao trabalho. E eu já conheço praticamente o mundo inteiro, só não fui pra Austrália. E mesmo que eu quisesse curtir, eu não consigo, porque eu fico tão concentrado no trabalho que eu esqueço de ver o resto. Então a vontade de voltar é absurda. Nesses últimos 5 anos, fiquei fora de casa pelo menos um ano inteiro.

OV: E você é corinthiano né?
Graças a Deus! (risos)
OV: Vimos que você fez fotos do Corinthians e da torcida, mas há uma diferença em você estar lá no meio, e você estar de fora, fotografando aquele momento?
Ah, sem dúvida. Existe uma coisa, que chega até ser chato de falar, mas eu não fotografo em situação nenhuma a não ser trabalhando. Eu gosto, claro, de fotografar, mas começa a vincular a coisa com o trabalho e isso não é muito bom. Então quando você está numa situação dessa que parecia ser bom, passa a não ser. Trabalho é claro que e necessário, mas se eu pudesse eu não trabalharia. Show é outra coisa que não consigo curtir porque eu sempre acho que estou trabalhando. Eu nem vou mais porque não me interessa. Fica uma coisa meio chata, então eu prefiro fazer outras coisas que não tenham essa conotação do trabalho.
OV: E você tem vontade de voltar para algum lugar, mas só para curtir e não para trabalhar?
Eu pretendo, mas é realmente difícil porque eu não consigo separar. Agora, por exemplo, eu estou fotografando vocês, mesmo sem câmera! E isso é tempo todo. Você acaba incorporando. É uma coisa involuntária. E tem que se dedicar né, porque a dedicação é através do treino, da repetição, do estudo, e pro fotojornalismo isso é muito importante, pois está ligado à mudança. Você quer mudar alguma coisa que não concorda  e mostrando isso para as outras pessoas podemos ter uma comoção que pode mudar aquilo que não é bom, e eu tento fazer isso. Mesmo sendo difícil, já que sou empregado  de uma empresa que visa lucros, mas quando eu tenho chance eu tento fazer  alguma coisa boa através do meu trabalho. Porque eu me importo com as pessoas, com a situação e quero mudar alguma coisa. E tem duas coisas que eu lembro que aconteceu: mudei a vida de duas pessoas de forma drástica. Uma foi um menino de família pobre que eu fiz uma matéria e na semana seguinte ele ganhou uma casa e o pai dele ganhou um emprego. A matéria saiu na primeira página da Folha e na semana seguinte chamaram ele no Gugu e deu entrevista e tudo mais. E da outra vez foi um menino também que estava desempregado e eu ocupei ele o dia inteiro e na semana seguinte ele conseguiu um emprego. Então esse tipo de coisa não tem preço. Você poder mudar a vida de uma pessoa sem querer nada em troca.
OV: E hoje você tem contado com essas pessoas?
Não, não vi mais. Mas sempre que eu pude, durante um tempo, eu ajudei, então e bem bacana quando você fica sabendo que essas coisas acontecem. E é bem difícil você conseguir fazer isso dentro de uma empresa que tem seus interesses acima de tudo. Então existe edição, publicação que é comandada por pessoas que nem sempre sou eu e conseguir fazer uma coisa dessas é muito bom e se todo mundo conseguisse fazer isso dentro de uma empresa que tem seus interesses acima de tudo. Então existe edição, publicação que é comandada por pessoas que nem sempre sou eu e conseguir fazer uma coisa dessas é muito bom e se todo mundo conseguisse fazer isso seria bem interessante. 
OV: E você pensa que poderia ter seguido outra profissão? 
Na verdade foi por acaso virar fotografo. Nunca imaginei que eu seguiria essa carreira. Aconteceu naturalmente. E só penso que minha vida poderia ser mais planejada, mas talvez eu seria chefe de cozinha, pois é uma coisa que eu gosto muito.
OV: Quem sabe daqui alguns anos?
Ah sim! Talvez um dia, com certeza! 
OV: E você tem alguma dica para os novos fotojornalistas que estão entrando no ramo agora?
Mesmo você tendo que colocar sempre sua profissão em primeiro lugar e deixar de lado uma série de coisas, eu vivi muita coisa que eu jamais viveria porque a profissão me permitiu. Eu não teria viajado tanto quanto eu viajei, situações que eu só tive acesso por causa da minha profissão. Você vive coisas que você nunca pensaria em viver.E a maior dica é a dedicação. Se entregar realmente pro que faz. E uma coisa que também é muito importante é criar referencias, ver fotos. Eu diariamente vejo uma média de cinco mil fotos. E faço isso há 16 anos. Dessa forma você começa a entender as coisas de maneira diferente. E além de tudo você vai tirar uma coisa sua, e que claro, nada se cria, tudo se copia, mas uma coisa particular vai surgir com o tempo.



sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mestre do Realismo

Por Bruna Viel e Fernanda Machado


Eça de Queirós nasceu dia 25 de novembro de 1845 em Póvoa do Varzim, Portugal. Passou boa parte da vida como filho ilegítimo, já que seus pais se casaram quando ele já tinha 4 anos, mas foi registrado por sua mãe apenas aos 40 ficando até então registrado como filho de ''mãe incógnita''. Em 1861 matriculou-se na Universidade de Coimbra, no curso de Direito. Foi lá que conheceu Antero de Quental e Teófilo Braga - revolucionários de letras e políticas portuguesas - mas nunca se envolveu na polêmica conhecida por questão Coimbrã (1865-1866), que opunha os jovens estudantes aos mais conhecidos representantes da segunda  
 geração romântica.
Após se formar passou a advogar, porém desistiu da carreira e se dedicou ao jornalismo criando o jornal “O Distrito de Évora” para criticar a política e depois colaborou na “Gazeta de Portugal”. Suas primeiras experiências literárias começaram durante suas viagens como jornalista para diversos países escrevendo e publicando as impressões dos lugares. Teve participação fundamental na implantação do realismo em Portugal, embora seus primeiros livros tenham mais caracteristícas naturalistas, como “O Crime do Padre Amaro”, o qual escreveu a primeira versão quando viajou para os EUA, pois estava trabalhando como cônsul em países como Havana, Cuba, Inglaterra e Paris onde morreu em 1900.
A obra teve sua versão definitiva publicada em 1880 buscando retratar a realidade de forma objetiva denunciando a corrupção dos padres, que manipulavam a população em prol da elite, e polêmica do celibato clerical. A narrativa foi escrita em terceira pessoa e o narrador é onisciente - conta a história com conhecimento dos pensamento e das ações dos personagens - facilitando o processo de distanciamento entre o autor e a obra. Fica claro que o autor apresenta uma postura anticlerical, retratando os padres e beatas com ironia e adjetivos rudes, o que ocasionou na proibição do livro em muitas escolas de Portugal e do Brasil durante décadas.
O enredo conta sobre Amaro que após perder os pais vai para um seminário por desejo de sua protetora, a Marquesa de Alegros. Assim que vira padre, tem que assumir a paróquia da freguesia da Sé, em Leiria. Na província é acolhido pela senhora Joaneira, que o hospeda em sua casa. A anfitriã tem uma filha chamada Amélia que acaba despertando o desejo de Amaro. Devido a personalidade fraca e facilmente influenciável de ambos, os dois se envolvem desencadeando a traição da jovem com seu futuro marido, João Eduardo. 
Amaro estranha o fato de seus colegas acharem normal sua relação com a beata e descobre que até seu mestre, cônego Dias, mantém um caso amoroso com a mãe da jovem. O padre se torna cada vez mais inescrupuloso deixando-se levar apenas pela atração sexual até que Amélia engravida e é mandada para a roça para evitar um escândalo. A jovem morre no parto e seu filho é enviado a uma ''Tecedeira de anjos'', mulher que mata recém nascidos indesejados. 
Diante do que foi apresentado no livro, os traços naturalistas ficam evidentes ao se analisar os personagens patológicos, que ilustram o homem em sua parte mais animal, portanto instintiva, e o tema abordado, já que em outros movimentos literários, como por exemplo o romantismo, não se falava sobre assuntos polêmicos como o celibato. O difícil é definir se o título da estória refere-se ao crime de assassinato cometido pelo padre a seu próprio filho ou a quebra do seu voto de castidade.
Sendo assim, o leitor consegue entender e imaginar como era a sociedade na época em que Eça de Queirós escreveu a obra. O mundo estava passando pela grande Revolução Industrial sofrendo mudanças constantes nos campos políticos, sociais e econômicos. Como consequência, a area da cultura também, tendo os ramos artísticos, musicais e principalmente literários interferidos. 
A literatura passou de uma escola literária muito marcante, o Romantismo, para o Realismo-Naturalismo, que foi uma fase acentuada pela expressão das ideias de forma direta. 
Os grandes escritores, como Eça, ao ter alguma crítica, transformavam as pessoas e situações reais em personagens escrevendo livros como uma forma da sociedade ler e saber como tudo realmente era.
Portanto, não há melhor forma de entender um período a não ser lendo sobre pessoas que o viveram e suas ideias, críticas e sugestões. Por conseguinte, a leitura de “O Crime do Padre Amaro” se tornou uma peça fundamental para o entendimento da sociedade na época da Revolução Industrial, da transição dos movimentos literários, das consequências de um suposto crime, e principalmente do conhecimento dos diferentes tabus, costumes, ideologias e crenças presentes no período.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Últimos tempos..

Quaanto tempo que não posto aqui.
Tenho meus motivos! Facul está me deixando DOIDA!
Última semana de aula.. só mais 2 trabalhos e uma prova! #nemacredito

Meu feriado?
HAHA

Intercomp não é de Deus gente!
Juro!
Quando você acha que não pode haver alguém pior que a última que você viu.. HÁ!
Somos surpreendidas novamente! ;D

Eu nem vou comentar muito, mas uma coisa eu digo:
"AAAII QUE BOOM SERIAAAA SE INTERCOMP FOSSE TODO DIAAAAA!"