sábado, 19 de junho de 2010

“A ideia de monopolizar o bem, jogando o mal para os outros, para os que agem e pensam diferente de nós, acompanha a ideia de controlar a verdade. A indiferença moral (desresponsabilização do indivíduo) e a política (passividade) mantêm relações íntimas com os meios de comunicação de massa.”


Tempos indiferentes
Por Fernanda Machado
A distinção cultural do bem e o mal teve seu início há muito tempo. Na Bíblia, Livro de Gênesis, essa diferença foi bem exemplificada quando o homem (Adão) foi tentado pela mulher (Eva) - que anteriormente havia sido tentada pela cobra – a experimentar o fruto proibido, o qual Deus disse para não comer, pois quem o provasse teria o conhecimento do certo e do errado. Aos que não acreditam nessa teoria, essa diferença também pode ser classificada quando qualquer ser vivo é repreendido ou sofre consequências por algo que fez e que está fora das normas já impostas dentro do seu próprio nicho.
Essas normas são impostas dentro de cada sociedade de acordo com seus padrões de organização tendo seus hábitos coletivos, como todo brasileiro ter a tendência de fazer do almoço a refeição mais importante ou de fazer festas de aniversário, e suas regras gerais que são as condutas obrigatórias determinadas para que todos tenham seus direitos e deveres diante de um sistema normativo.  Mas originalmente, nossas culturas não tinham um olhar claro sobre o bem e o dever, pois no imaginário social tudo o que era bom era devido. Todavia, naquela época as sociedades não tinham subdivisões sendo um conjunto único de normas obrigatórias. Agora, as culturas têm suas próprias interpretações de algumas regras que ganham significados próprios. Assim, a passividade dos diferentes governos em relação a algumas normas fica bem acentuada, já que só cobram da população o que lhe são de maior interesse. 
Mas a política não tem toda a culpa, pois muitas atitudes deixam de ser cobradas pela indiferença moral das pessoas. Cada época é marcada e caracterizada por uma virtude e um vício que a faz ter pontos positivos ou negativos. A virtude da geração atual é o desenvolvimento intelectual, com os avanços da internet e da comunicação, mas seu vício é a grande indiferença do indivíduo. Vemos claramente nas mídias, de maneira escancarada a corrupção e a ousadia. Pessoas que estão no poder se acham no direito de zombar indiretamente da população, desrespeitando qualquer índice de opinião. Famílias assistem a queda de sua geração mais nova. Pais que vêem seus filhos se tornarem pessoas de má índole. Mães que simplesmente abandonam seus filhos em latas de lixo como se fossem descartáveis. Pessoas que se dizem injustiçadas, mas que invadem propriedades alheias não se importando com a futura situação dos moradores presentes. Civilizações inteiras são massacradas e quase exterminadas por interesses mesquinhos ou até sem nenhuma razão. 
Isso tudo acontece diariamente, nem metade dos casos são realmente relatados, e os veículos de comunicação passam a imagem de apenas informar e atualizar a população, mas indiretamente criam uma opinião formada para os receptores. Dessa forma, se os veículos de comunicação não incentivam a sociedade a tomarem providências, a população vai continuar assistindo de camarote o planeta se perdendo dentro dele mesmo. As pessoas não parecem se importar muito com o que assistem toda noite no conforto do seu sofá. E então, essa indiferença com o próximo aumenta como uma avalanche, tornando a sociedade cada vez mais egoísta, insensível e com suas divisões mais acentuadas.
Porém, o pensamento “se aconteceu com ele, é porque mereceu” acaba se tornando um dos principais argumentos para os que acreditam que nada os atinge e que só toma as atitudes corretas. Mas eles não sabem diferenciar algo realmente errado e injusto de algo diferente de seus costumes. Os que afirmam que tudo o que não é igual ao seu grupo não é bom, são os mesmos que tentam monopolizar a verdade tornando-a única e inquestionável. Dessa forma, qualquer indivíduo que discorde ou apenas não siga as normas pré-determinadas, sofre de inúmeras repressões e preconceitos sem ter ao menos o direito de se defender, pois os repressores são pessoas que têm interesses próprios para se auto-enaltecer como, por exemplo, os políticos já citados. Eles criam uma própria ideologia e transmitem-na para o maior número de pessoas possíveis, acreditando veementemente que todos são de acordo porque aquela é a verdade e impõe um tipo de pensamento único que se todos seguirem serão pessoas “melhores”.
Sendo assim, a política tem seu papel fundamental na formação da opinião de uma sociedade, pois apesar de qualquer circunstância, os donos do poder acabam tendo a palavra final. Já os veículos de comunicação têm a responsabilidade de colher todas as informações possíveis, filtrar e analisar se são verídicas e, por final, transmití-la a população, porém a última não tem garantia de que tudo o que receberá terá um ângulo imparcial da situação. Por conseguinte, cada indivíduo não deve deixar-se levar por opiniões e formas de pensar alheias deixando seu olhar crítico de lado para entrar no senso comum, pois dessa maneira nunca conseguirá sair da atmosfera induzida e entrar na que se é capaz de analisar, questionar, duvidar, discordar e formar a sua própria ideia.  Mas para isso, cada indivíduo deve aceitar que cada pessoa, cada grupo, cada tribo é diferente no seu modo de agir e de pensar. Não é porque uma pessoa, por ser a favor de algo que o outro é contra, que o último deve discriminar e criticar o primeiro. Muito pelo contrário. Ele deve socializar-se para que aprenda com diferentes linhas de raciocínio um modo diferente de observar a humanidade. Evidentemente, se todos agissem de uma forma mais humana com o próximo, as diferentes civilizações entrariam em acordo, saberiam partilhar, ensinar e aprender com as diferenças com uma facilidade inevitavelmente maior.  

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