sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mestre do Realismo

Por Bruna Viel e Fernanda Machado


Eça de Queirós nasceu dia 25 de novembro de 1845 em Póvoa do Varzim, Portugal. Passou boa parte da vida como filho ilegítimo, já que seus pais se casaram quando ele já tinha 4 anos, mas foi registrado por sua mãe apenas aos 40 ficando até então registrado como filho de ''mãe incógnita''. Em 1861 matriculou-se na Universidade de Coimbra, no curso de Direito. Foi lá que conheceu Antero de Quental e Teófilo Braga - revolucionários de letras e políticas portuguesas - mas nunca se envolveu na polêmica conhecida por questão Coimbrã (1865-1866), que opunha os jovens estudantes aos mais conhecidos representantes da segunda  
 geração romântica.
Após se formar passou a advogar, porém desistiu da carreira e se dedicou ao jornalismo criando o jornal “O Distrito de Évora” para criticar a política e depois colaborou na “Gazeta de Portugal”. Suas primeiras experiências literárias começaram durante suas viagens como jornalista para diversos países escrevendo e publicando as impressões dos lugares. Teve participação fundamental na implantação do realismo em Portugal, embora seus primeiros livros tenham mais caracteristícas naturalistas, como “O Crime do Padre Amaro”, o qual escreveu a primeira versão quando viajou para os EUA, pois estava trabalhando como cônsul em países como Havana, Cuba, Inglaterra e Paris onde morreu em 1900.
A obra teve sua versão definitiva publicada em 1880 buscando retratar a realidade de forma objetiva denunciando a corrupção dos padres, que manipulavam a população em prol da elite, e polêmica do celibato clerical. A narrativa foi escrita em terceira pessoa e o narrador é onisciente - conta a história com conhecimento dos pensamento e das ações dos personagens - facilitando o processo de distanciamento entre o autor e a obra. Fica claro que o autor apresenta uma postura anticlerical, retratando os padres e beatas com ironia e adjetivos rudes, o que ocasionou na proibição do livro em muitas escolas de Portugal e do Brasil durante décadas.
O enredo conta sobre Amaro que após perder os pais vai para um seminário por desejo de sua protetora, a Marquesa de Alegros. Assim que vira padre, tem que assumir a paróquia da freguesia da Sé, em Leiria. Na província é acolhido pela senhora Joaneira, que o hospeda em sua casa. A anfitriã tem uma filha chamada Amélia que acaba despertando o desejo de Amaro. Devido a personalidade fraca e facilmente influenciável de ambos, os dois se envolvem desencadeando a traição da jovem com seu futuro marido, João Eduardo. 
Amaro estranha o fato de seus colegas acharem normal sua relação com a beata e descobre que até seu mestre, cônego Dias, mantém um caso amoroso com a mãe da jovem. O padre se torna cada vez mais inescrupuloso deixando-se levar apenas pela atração sexual até que Amélia engravida e é mandada para a roça para evitar um escândalo. A jovem morre no parto e seu filho é enviado a uma ''Tecedeira de anjos'', mulher que mata recém nascidos indesejados. 
Diante do que foi apresentado no livro, os traços naturalistas ficam evidentes ao se analisar os personagens patológicos, que ilustram o homem em sua parte mais animal, portanto instintiva, e o tema abordado, já que em outros movimentos literários, como por exemplo o romantismo, não se falava sobre assuntos polêmicos como o celibato. O difícil é definir se o título da estória refere-se ao crime de assassinato cometido pelo padre a seu próprio filho ou a quebra do seu voto de castidade.
Sendo assim, o leitor consegue entender e imaginar como era a sociedade na época em que Eça de Queirós escreveu a obra. O mundo estava passando pela grande Revolução Industrial sofrendo mudanças constantes nos campos políticos, sociais e econômicos. Como consequência, a area da cultura também, tendo os ramos artísticos, musicais e principalmente literários interferidos. 
A literatura passou de uma escola literária muito marcante, o Romantismo, para o Realismo-Naturalismo, que foi uma fase acentuada pela expressão das ideias de forma direta. 
Os grandes escritores, como Eça, ao ter alguma crítica, transformavam as pessoas e situações reais em personagens escrevendo livros como uma forma da sociedade ler e saber como tudo realmente era.
Portanto, não há melhor forma de entender um período a não ser lendo sobre pessoas que o viveram e suas ideias, críticas e sugestões. Por conseguinte, a leitura de “O Crime do Padre Amaro” se tornou uma peça fundamental para o entendimento da sociedade na época da Revolução Industrial, da transição dos movimentos literários, das consequências de um suposto crime, e principalmente do conhecimento dos diferentes tabus, costumes, ideologias e crenças presentes no período.

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