terça-feira, 22 de junho de 2010

Meio fio entre realidade e ilusão

Por Fernanda Machado

Considerado o maior nome da literatura brasileira pelos estudiosos da area, Machado de Assis tem uma extensa obra que no começo tendia para o Romantismo, mas em sua segunda fase foi caracterizada pelo Realismo. Foi nessa última que foi capaz de realizar a primeira narrativa fantástica e o primeiro romance realista brasileiro em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ainda na segunda fase, o autor se especializou na literatura em segunda pessoa, como em Dom Casmurro
Em toda a sua vida literária, Machado escreveu romances, peças teatrais, coletâneas de poemas e sonetos, crônicas, críticas e contos, e é nesse último gênero que ele se inspirou não só em escritores nacionais, mas foi mais além ao ser influenciado por Ernst Theodor Amadeus Hoffmann e Edgar Allan Poe. Dessa forma, criou diversos contos até que começou a escrever os “contos fantásticos” - nome dado por ele mesmo - de conteúdo mágico e sem explicação lógica dos fatos descritos. 
Três de seus maiores contos foram reunidos em um único livro produzido pela EDIFIEO - editora do Centro Universitário UNIFIEO - : Sem olhos, Um esqueleto e A chinela turca. No primeiro conto, Sem olhos, foi publicado em 1876 no Jornal das Famílias. O conto começa na casa do casal Vasconcelos e recebem quatro visitas: o Senhor Bento Soares, Dona Maria do Céu, o bacharel Antunes e o desembargador Cruz. Os seis conversam sobre vários assuntos  rodeando estórias de bruxas, superstições, fantasmas e coisas do gênero. Porém a maioria declara não acreditar e achar que não passa de mera especulação imaginativa. Assim, o desembargador Cruz aguçou a curiosidade dos demais afirmando que ele teve uma experiência que nunca se esquecera. Após a descrição do ocorrido - viu uma moça sem olhos que já havia morrido, mas depois descobriu que quando viva, nunca teve seus olhos arrancados - ficou visível que todos permaneceram pensativos sobre a descrença no sobrenatural. 
Ao terminar de ler, fiquei me perguntando como seria possível alguém ver algo que foi plantado em sua imaginação por outra pessoa? Qual é a real força da nossa imaginação quando somos capazes de criar em nossas mentes algo que outra pessoa descreveu, mas que por impulso de achar verídico, acabamos acreditando?
No segundo conto, Um esqueleto, publicado no mesmo ano e jornal, conta sobre alguns rapazes que conversavam sobre vários assuntos até que um deles, Alberto, comenta sobre o dr. Belém, mas todos afirmaram não conhecê-lo. Sendo assim, esse rapaz começa a contar sobre esse médico e sobre sua suposta história de amor e ciúme. No final, quando todos estão estarrecidos com o desfecho, Alberto declara que dr. Belém nunca existiu. Ao final dessa, fiquei um tempo pensando como me sentiria se fosse aquelas pessoas que estavam escutando Alberto, acreditando que era verdade e depois descobrir que não se passa de uma invenção.  
Por fim, no último conto, A chinela turca, a estória de um bacharel, Duarte, é narrada. O personagem estava se preparando para ir a um baile quando recebe a visita de Major Lopo Alves que afirma ter escrito uma peça literária e gostaria de saber a opinião de Duarte. Assim, Duarte começa a ouvir o Major, mas coisas sem explicação começam a acontecer até que Duarte desperta e percebe que acabou de sonhar com a estória que estava sendo contada por Major. Quando terminei, só consegui pensar em como o conto foi bem escrito pois eu realmente acreditei que Duarte estava vivenciando tudo aquilo.
Com o término dos contos, fechei o livro e refleti como algumas folhas podem fazer nossa imaginação nos tirar de qualquer lugar e nos transportar para onde estamos pensando. Machado de Assis é, realmente, um dos mestres dos contos fantásticos. A cada termino de uma estória, não podia esperar para chegar ao clímax da próxima. O autor proporciona ao leitor uma espécie de êxtase em cada final, e dificilmente um leitor adivinha ou supõe o que vai acontecer no final. Todos, sem excessão, deveriam experimentar um gostinho da literatura machadiana fantástica e degustar da magia, do sobrenatural, da inquietação e da singularidade de seus contos. 

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