quarta-feira, 2 de março de 2011

Dois comentários sobre dois ícones da música brasileira. 
- Não esperem muito já que os dois foram feitos em 40 minutos e sem consulta a qualquer meio de pesquisa exceto ao prazer de escutá-los em seus últimos trabalhos.



E ele não para

Um dos maiores compositores que já conheci. Dormia ouvindo suas melodias quando criança e até hoje não sai da minha lista de artistas favoritos.
Djavan canta e encanta, porém, é daqueles artistas e cantores que ou gostam ou odeiam. Dessa forma, ele construiu sua carreira deixando sua marca ao longo das gerações. E seu mais novo sucesso foi composto através de outros sucessos. Faixas compostas originalmente por Chico Buarque, Luis Gonzaga, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Gilberto Gil dão sentido ao nome do disco: Ária. 
Fica claro que ele escolhe esse nome para enfatizar que as faixas contidas ali são marcos importantes na história. De compositores e cantores que fizeram a diferença ao longo da evolução musical.
Certamente, Djavan atinge seu objetivo, pois fica claro que ele escolheu a dedo cada música e deu seu toque pessoal à cada arranjo. Ele esbanja talento tanto como cantor como violinista e a harmonia que ele explicita em cada faixa é de nos fazer fechar os olhos e sentir cada acorde bater no fundo do peito.
É por essas e outras que tenho muitos CDs, a maioria passada de uma geração anterior e enquanto ele continuar lançando suas obras, continuarei adquirindo-as, pois acredito que essa é a melhor maneira de prestigiar o trabalho de alguém. 


Samba moderno de raiz
Seguindo os passos da mãe Elis Regina, a cantora e compositora Maria Rita encanta qualquer um por onde passa E não é só por sua beleza, mas principalmente pela sua voz única.
Maria Rita nasceu e continuou no meio do samba, e esbanja talento em seus shows e em cada CD que lança. Porém, mesmo tendo vivido nesse mundo há tempos, Maria só começou a dedicar-se à carreira depois de crescida. Foi com personalidades como Paulinho da Viola, Marcelo D2, Mart’nália, Alcione e Arlindo Cruz que aprendeu um jeito diferente de compor, de sambar, de respeitar e amar o samba como ele merece.
Em seu CD “Samba Meu”, Maria Rita coloca em cada faixa um toque pessoal. Não que não seja impossível de reconhecer a voz e o timbre singular de Maria, mas a maneira como ela brinca com as notas musicais como se fossem botões que liga e desliga quando bem entende, é simplesmente único - como sua mãe. 
Com o “Samba Meu”, Maria Rita traz a raiz dessa modalidade. Sem dúvidas ela quis mostrar e expor a alegria e a honra de ser um sambista nato. Ela reproduz um samba que ao escutar os primeiros acordes, o ouvinte já quer levantar e começar a se mexer.
Na primeira faixa, ela faz uma espécie e oração pedindo a permissão para passar adiante o que ela sabe sobre o samba. Pede licença para os antigos e respeitados sambistas para ela executar essa obra. A partir daí, ela começa com faixas extremamente harmônicas entre a voz e cada instrumento. Maria consegue conduzir, mesmo uma música com a letra triste, à um estado de paz e bem estar.
Dessa forma, é um dos poucos CDs que estão no mercado que faço questão de ter em minha estante para daqui algumas décadas mostrar à próxima geração do mesmo jeito que meus pais colocavam o vinil de Elis no toca discos.

INTIMIDADE ALCANÇADA


Por Fernanda Fioravanti Machado
Em sua segunda e tão esperada temporada, a modelo, atriz, estilista e apresentadora Fernanda Lima volta às telas da Rede Globo com o programa Amor & Sexo deixando as noites de terça-feira bem mais provocantes. 
O programa de auditório teve sua primeira edição em agosto de 2009 com a direção de núcleo e direção-geral de Ricardo Waddington e roteiro de Rafael Dragaud abordou a sexualidade e relacionamentos de maneira sutil e descontraída, mas direta sem ter exageros explícitos em seus quadros. 
Com o início da nova temporada, essas qualidades não se perderam, mas pelo contrário: recebeu novidades que prometem ao telespectador muitas risadas e conhecimento. Leo Jaime e sua banda continuam responsáveis pela trilha sonora de Amor & Sexo e os comentários e opiniões do cantor garantem o olhar masculino nas discussões apresentadas por Fernanda.
O programa tem a duração de dois meses e a cada episódio os quadros, os convidados, a plateia e os assuntos são modificados. Os temas vão desde o “GaYme” - jogo sobre, mas não exclusivamente, gays -, passando pelo “Jogo de Cama” - uma competição de perguntas e respostas que desafia um convidado famoso a seduzir uma mulher de maneira convincente - e vai até o momento mais informativo intitulado “Ponto Q?” que explica tudo o que está em alta e que as pessoas querem saber.
Mesmo tendo um foco maior ao público jovem, os adultos e idosos também não ficam para trás já que os assuntos abordados permeiam o dia a dia de grande porcentagem de seus telespectadores. Um grande exemplo é o casal de repórteres Valéria Abaurre Gonçalves e Fábio Gonçalves, que já comemorou suas Bodas de Ouro e, além de ser íntimo do público de Amor & Sexo, permanecem na equipe do programa desde a primeira temporada trazendo através de reportagens, assuntos íntimos, curiosos e nada comuns.
Nessa segunda temporada, os roteiristas - divido à críticas expostas em 2009 - prometeram não dar espaço para intenção de resposta a qualquer episódio e, sem dúvida, estão cumprindo com a palavra. Com a ajuda da auto confiança de Fernanda Lima nos palcos sabendo sempre envolver o telespectador em todos os temas propostos, também não deixa a desejar nas externas. Os quadros gravados em Nova York ou nas ruas do Rio de Janeiro aumentaram o sucesso e assim, deixando o programa bem mais dinâmico.  
Apesar de o programa ser temporário, não tem como dizer que se fosse prolongado a um semestre ou ter permanência efetiva na programação, ele deixaria de fazer sucesso. Há muito nesse campo a ser discutido e abordado, pois uma coisa que percebe-se com facilidade nos quadros é como os anônimos conseguem se expressar com maior facilidade e questionar sobre alguns aspectos que uma pessoa que mostrasse sua identidade não seria capaz. Dessa forma, muitos temas que, mesmo no período que estamos permanece em grande tabu dentre as famílias, sejam permitidos pelos pais para que seus filhos mantenham um certo contato com essa realidade através da televisão aberta e assim, despertando um maior interesse em ambas as partes para que isso se torne mais acessível e com maior poder de argumentação e curiosidade entre eles. 
Mesmo havendo algumas controvérsias de pessoas talvez um pouco conservadoras demais, dizendo que o programa é de mau gosto e que não deveria ter entrado no ar desde seu primeiro episódio já que crianças também podem assistir, a faixa etária permanece nos 14 anos. Com certeza a escolha não poderia ter sido melhor já que muitos assuntos ali tratados já são do conhecimento de muitos mirins. E isso não é uma escolha da sociedade e muito menos dos diretores do programa. O mundo já está nesse estágio de que um garoto de 12 anos já tem conhecimento precoce de assuntos que sua geração anterior, na mesma idade, não tinha. A infeliz realidade de garotas de 11 anos cuidando de seus bebês já pipocam em diversos grandes polos, assim não deixando muitas escolhas a não ser continuar instruindo as novas gerações.
E já que informação nunca é demais a nenhuma idade, a agilidade, a boa edição e as ágeis sacadas estão marcando esse novo período, sempre deixando um desejo de querer mais a cada final de bloco. E como em qualquer relacionamento, sempre deve-se apostar nas melhores escolhas e deixar de lado o que não funciona, Amor & Sexo continua trazendo seus telespectadores para debaixo do edredon e mantendo sua intimidade cada vez mais aberta. 

terça-feira, 1 de março de 2011

- Pois é.. As férias definitivamente acabaram e, contrário de muitas faculdades, a FIEO já está com tudo.
Como já estou fazendo outros trabalhos, que mais tarde postarei aqui (:, vou postar um que estava perdido em meio as papeladas do 4o semestre.



ORGULHO E DESESPERO


Por Fernanda Fioravanti Machado
Confirmado até pelo roteirista Bráulio Mantovani como “muito melhor que o primeiro”, Tropa de Elite 2 superou as expectativas e segue para a quinta semana em cartaz aumentando cada vez mais a chance de ultrapassar os 9,1 milhões de espectadores de Avatar e tornar-se, assim, o filme mais visto de 2010. 
Tropa de Elite 2, dirigido por José Padilha e é protagonizado por Wagner Moura que interpreta novamente o Capitão Nascimento. Dez anos mais velho, Nascimento sobe para Coronel e suas novas funções ajudam o BOPE crescer e, consequentemente, prejudicar o tráfico de drogas. Mas o que ele não percebe é que ao fazer isso está ajudando policiais e políticos corruptos com interesses eleitoreiros. Como na chamada do filme, os inimigos de Nascimento agora são outros. E pior: muito mais perigosos.
Moura continua roubando a cena. O primeiro filme foi rodado tendo seu personagem como um mero coadjuvante que só aparecia na tela aos 50 minutos do longa. “Ele era um personagem menor. Só que, graças à performance do Wagner, o Capitão Nascimento cresceu muito”, disse o roteirista Mantovani ao site da revista VEJA. O Tropa 1 foi escrito tendo como protagonista e narrador o personagem do André Mathias, interpretado por André Ramiro. Desde o início, a direção do filme sabia que poderia não dar certo e foi o que aconteceu. Mantovani afirmou que não se arrependeu, mas sim aprendeu com os erros do primeiro para estourar no segundo. 

Sem dúvidas que direcionar o foco na história do Capitão Nascimento daria um rumo diferente à trama. Dessa forma, ela transcendeu o universo da polícia para chegar à segurança pública. Os conflitos pessoais de Nascimento, que no primeiro filme eram periféricos e agora se tornaram a espinha dorsal junto aos seus conflitos profissionais tornaram o filme mais complexo e dramático. E mais ainda, ganhou a camada nova da política. 
O que vemos na tela se dá única e exclusivamente através do discurso do capitão Nascimento. São dele as primeiras palavras (“O Rio de Janeiro tem mais de 700 favelas...”) e as últimas (“Eu ia voltar para a minha família sabendo que tinha deixado alguém digno no meu lugar”). Ele começa com um aspecto documental, explicitando a realidade na qual vai inserir o espectador, para ir aos poucos mudando a narração à subjetividade absoluta.
Se Nascimento expõe os acontecimentos, detalha os esquemas de corrupção policial, debocha da classe média, ele o faz com o intuito de nos mostrar a sua angústia pessoal: a sua vontade de arranjar alguém que o substitua no Batalhão de Operações Especiais (Bope). E para isso, a direção do filme não tenta de forma alguma embelezar cenas de violência deixando a brutalidade do ato atingir quem assiste. 
[Processo contrário do que acontece em Batismo de Sangue – filme nacional recente e que exibe cenas pesadas de tortura. O diretor Helvécio Ratton parece fazer questão de expor os torturados filmando-os na maioria das vezes com ângulos fechados, a lente colada em seus rostos e olhos e enquadrando-os em contra-plongée apenas aumentando o tom sensacionalista das cenas.]
No filme, a violência e a corrupção na polícia continuam em alta como no primeiro, porém, na segunda edição, os assuntos são mais ambiciosos e assustadores. Ao invés de colocar a culpa do crescimento do tráfico nas mãos da elite que compra e financia a droga no país mesmo que utilizando quantidades para “consumo próprio”, a trama mostra que a raiz do problema está bem mais em cima: na política. Justamente nas pessoas que afirmam querer e ter planos para acabar com a venda e consumo de substâncias ilícitas. São eles que usufruem de qualquer situação para conquistar dinheiro e visibilidade, recebendo o apoio de demais políticos tornando o sistema – tão questionado e criticado - cada vez maior. 
Para muitos, Tropa de Elite 2 será o blockbuster do ano (filme que por ser de excelente qualidade, leva milhões de pessoas ao cinema, rendendo muito dinheiro em retorno aos estúdios, patrocinadores, etc), com direito a efeitos especiais importados, cenas de ação mirabolantes, frases de efeito e um enredo mais que inteligente. Mas por trás disso, há o retrato frio e realista da nossa sociedade. Um lugar que não mede esforços para arrancar dinheiro de qualquer meio e se pessoas demais estiverem sabendo dos atos corruptos, a queima de arquivo é colocada em prática sem o menor receio ou culpa. 
E é em meio a essas verdades que os demais países questionaram Padilha e Wagner Moura sobre a violência, o tráfico e a pirataria no Brasil. Esses foram os principais temas abordados em entrevista para a imprensa estrangeira em outubro deste ano. Os jornalistas perguntaram pouco sobre o filme, mas bombardearam o diretor e o ator com perguntas sobre a veracidade dos fatos mostrados no filme. Uma delas foi se a trama tinha intenção de provocar uma mudança na situação da segurança no Brasil, e a resposta muito cuidadosa de Padilha afirmou que não acha que seu trabalho tenha o poder de mudar a realidade, mas gostaria que fosse assim, porque a segurança não tem no Brasil a atenção que deveria ter. 
Outro ponto que foi bem insistente por parte de jornalistas portugueses é se a imagem de um Rio de Janeiro violento e corrupto não poderia interferir negativamente no turismo brasileiro, justamente no momento mais promissor, com a realização da Copa do Mundo de 2014. O diretor de Tropa respondeu dizendo que seu compromisso é “com as pessoas que vão assistir ao filme, não com o turismo”, e foi ajudado por Wagner Moura que complementou explicando que o filme retrata a realidade brasileira porque Padilha é documentarista. “Aqui dentro o filme tem a identificação do brasileiro que conhece este quadro, mas lá fora pode provocar perplexidade”, respondeu o ator. 
Sendo assim, com todas as informações que recebi antes de assistir ao filme e depois com todas as críticas expondo pontos cruciais da trama, quando saí da sala de cinema ao som de “Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo, sem saber o calibre do perigo, eu não sei d’aonde vem o tiro” (O Calibre – Os Paralamas do Sucesso) fui tomada por duas sensações: a primeira de entusiasmo por ter um filme nacional se tornando um marco importante na história do cinema brasileiro, já que pela primeira vez um filme sobre violência, drogas e política é narrado do ponto de vista de policiais. E segunda de desespero momentâneo pelo filme ter escancarado ao país uma realidade que nem todos enxergam ou não querem enxergar: vivemos em um país violento e há pessoas que tomam atitudes que jamais nos passariam pela cabeça. E o mais sufocante... Não temos para onde fugir.