quarta-feira, 21 de setembro de 2011

SE ACABE NA PISTA ECOLÓGICA

Imagine uma balada em que você se diverte na pista e ainda produz energia para alimentar as luzes e o som do ambiente

Por Fernanda Fioravanti Machado


       A cada ano, mais novidades entram para a lista das opções ambientais. Dessa vez, o que está fazendo a cabeça da galera são as Baladas Sustentáveis em que a eletricidade não vem da tomada, mas sim da energia dos baladeiros. 
     Isso é possível graças a tecnologia da pista de dança piezoelétrica, que consegue transformar o movimento das pessoas em eletricidade. O chão, que é feito com uma mistura de cerâmica e quartzo, sofre uma pequena deformação (imperceptível para quem está dançando). Isso gera corrente elétrica que é utilizada para alimentar o clube. 
     A pista high-tech consegue gerar até 60% de toda a eletricidade consumida pela casa noturna. Os outros 40% são obtidos através de sistemas de baterias, painéis de energia solar e uma turbina eólica que garantem o seu contínuo funcionamento. Com tanta energia fornecida, se a produção superar a necessidade, todo o excedente é doado aos imóveis vizinhos.
     Mas o projeto ecológico não para por aí. As paredes do clube são sensíveis ao calor e mudam de cor quando a casa está cheia e, literalmente, fervendo. No banheiro, as descargas e torneiras utilizam água da chuva. O ar condicionado é substituído por dutos de ar, e todos os vidros, metais, plásticos e papéis são reciclados. Já o bar só serve bebidas e alimentos orgânicos feitos sem nenhum tipo de agrotóxico ou produto químico, e tem como destaque a “biocerveja”. 
- EcoBaladas pelo mundo
     A primeira balada sustentável do planeta é a Sustainable Dance Club (SDC) em Rotterdam na Holanda. Ela foi criada através do projeto “When Nature Calls” (Quando a Natureza Chama) conduzido pela Enviu - inovadores em sustentabilidade. O resultado foi oficialmente lançado no Clube Off Corso com o evento “A Massa Crítica”, em 2006. 
     Dois anos depois, a WATT Club foi inaugurada na cidade holandesa como a primeira EcoBalada apresentando o seu modelo mais antigo. No ano seguinte, uma versão atualizada da Pista de Dança Sustentável foi lançada e transportada em todo o mundo para uma ampla variedade de clientes. 
     A Sustainable Dance Club acredita que se divertir e assumir a responsabilidade com o nosso mundo devem andar de mãos dadas. Assim, querem inspirar os jovens do mundo a adotar um estilo de vida mais ecológico. Afirmam também não acreditar que o lucro deve ser o único foco de uma sociedade moderna. Dessa forma, levam a frente seu slogan: People, Planet, Party!
     Já em Londres, no bairro de King’s Cross, a boate Bar Surya foi criada a partir do projeto Club4Climate. 
     O nome Surya significa Deus Sol em sânscrito e possui as mesmas inovações da SDC de Rotterdam, mas com algumas ideias a mais. As mesas são feitas de revistas, as paredes decoradas com telefones antigos e até uma banheira deu origem ao sofá. 
     Mas, um dos maiores atrativos leva a ecologia para o bolso dos adeptos da balada verde: a entrada é gratuita para quem comprovar que chegou lá andando, de bicicleta ou por meio do transporte público. Quem for de carro, poluindo as ruas de Londres, tem de pagar 10 libras para entrar.
Baladeiros gerando energia para o 
WATT Club em Rotterdam na Holanda
     No mesmo período, Nova York - a cidade que nunca dorme - não quis ficar de fora e também criou a sua balada sustentável, a Greenhouse. A casa noturna ecofriendly foi inaugurada em meio a muita especulação. A imagem de "espaço 
amigo da natureza" foi tida como jogada de marketing por muitos 
críticos. Mas, desde então, a Greenhouse virou point  e foi a única
boate do mundo a receber um certificado L.E.E.D. (Leadership in Energy and Environmental Design - Líder em Energia e Design Sustentável).
     Além de todos os atributos que as outras baladas contém, o teto da Greenhouse é coberto por mais de 5,000 cristais transparentes, criando a sensação de uma paisagem móvel. Os banheiros e as pias foram projetados para poupar mais de 15 mil galões de água por ano. E toda a madeira usada no ambiente é de bambu, que cresce rapidamente e, por isso, mais fácil de ser reflorestado.
    Claro que os funcionários da casa não sairiam ilesos. Todos vestem uniformes Edun, marca ecologicamente correta de Bono Vox, do U2. Os sabonetes também levam a assinatura de um famoso preocupado com o futuro do planeta, Brad Pitt. Os dois não são os únicos famosos que têm o nome ligado ao da boate. Leonardo DiCaprio, Cameron Diaz, Jay-Z, Rihanna, Katy Perry e Colin Farrell também são frequentadores assíduos. 
- O Brasil também quer
     As baladas brasileiras ainda estão longe de se tornar sustentáveis, apesar das expectativas das três organizações
 de EcoBaladas ao redor do mundo em trazer para o país suas inovações. O envolvimento e a importância que os artistas, com suas bandas e festas, dão à causa pode ser um meio de mostrar a relevância de conservar o meio ambiente. “Toda vez que um artista assume uma postura sustentável de forma séria e consequente, acaba influenciando muito mais outras massas”, afirma Eduardo Petit, diretor de marketing e responsável pela divisão CarbonoNeutro da empresa MaxAmbiental. 
     A companhia já neutralizou o show do grupo O Rappa no aniversário da ONG S.O.S Mata Atlântica em junho de 2006, e já fechou contratos com a atriz Regina Casé e a ex dupla Sandy e Júnior. 
Pista de dança piezoelétrica na boate Bar Surya em Londres
     Renato Ratier, DJ e proprietário de um dos maiores clubes noturnos D-Edge, em São Paulo, elogia o projeto desenvolvido na Holanda e diz: “Estamos estudando a viabilidade de algumas dessas ideias e pesquisando outras medidas que podem ser adotadas na casa” 
    A Balada Sustentável ainda não chegou aqui, mas o empreendedor Carlos Roberto Moraes está construindo uma casa de eventos ecologicamente correta. A ideia é aliar convívio social e luxo com a preservação da natureza. 
     A casa de shows ficará entre Pederneiras e Bauru e todo o material utilizado será ecológico. “A construção foi feita com  madeira de reflorestamento, tijolo ecológico, telha de fibra vegetal, cobertura verde, entre outros”, conta Carlos. Eucaliptos que serviam de postes em cidades da região agora são pilares de sustentação. “Eles seriam queimados pela companhia de energia elétrica, mas conseguimos comprá-los em um leilão”.
     Carla Toscano, baladeira assídua de 22 anos afirma que não vê a hora de poder entrar em uma casa noturna sustentável e se sentir parte da mudança do meio ambiente. “Amo sair todo final de semana, mas sempre penso nos impactos negativos que os lugares que frequento causam. Quero fazer parte desse mundo sustentável e quero participar disso dentro do Brasil”.

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