domingo, 6 de dezembro de 2009

Filosofei

“Que seria de nós se tivéssemos a vida e não as ideias?”


Quem um dia já parou para pensar em uma frase dessa? Apenas quem a inventou e quem a leu, pois todos nós sempre acreditamos que temos a vida, e as idéias são apenas uma parte dela. Mas será que nosso pensamento está certo?
Essa frase é de origem anarquista, ideologia na qual defende o comportamento libertário e profundamente individualista. A principal idéia que rege o anarquismo é de que o governo formal é totalmente desnecessário, violento e nocivo, acreditando que toda a população pode, voluntariamente, se organizar e sobreviver em paz e harmonia. Apóia a ruptura com todas as formas de autoridade política e religiosa e com qualquer tipo de propriedade privada e normas institucionais que limitassem a vida do homem. Para eles, se a sociedade eliminasse todos os tipos de privações, seria possível obter uma comunidade com mais igualdade e mais solidária. A linha de pensamento anarquista se identifica com o pensamento existencialista de Sartre.
Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi um filósofo francês, escritor e crítico, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade e a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir e, como consequência, não têm uma "essência" posterior à existência. Defendia também a ideologia de que a liberdade moral da escolha rejeita qualquer ideia de determinismo, pois não existe uma natureza interior ao homem nem valores fora dele para preestabelecer o que o homem irá decidir. Assim, “ninguém nasce covarde ou herói”, diz Sartre, “mas cada um se faz conforme sua livre opção, tornando-se responsável pelo que é”. Essa liberdade e responsabilidade moral de opção caracteriza o que Sartre chamou de "dureza otimista". Porém, do mesmo jeito que o homem se dá essa opção de escolha, ele mesmo estabelece limitações. Essas limitações são marcadas pelas capacidades físicas do ser humano. Mas essas limitações têm que existir, pois se não há limitação, não há liberdade já que as limitações determinam as possibilidades de escolha.
O existencialismo de Sartre foi muito criticado, pois achavam que sua filosofia era prejudicial aos valores da sociedade e à manutenção da ordem. Era um pensamento contra a humanidade. Porém, o filósofo responde com a obra “O existencialismo é um humanismo”, no qual afirma que o existencialimo não pode ser um abrigo para quem procura a desordem, já que a ideologia não apoia o abandono da moral, mas a determina como responsabilidade individual de cada ser. Deste modo, Sartre defendia a ideia de que o homem é livre e responsável por tudo que está à sua volta. Todo ser humano é inteiramente responsável pelo seu passado, seu presente e também seu futuro. Ele dizia que “O homem está condenado a ser livre”. Nossas escolhas são feitas por aquilo que achamos ser o melhor para nós mesmos. Em outras palavras, para ele, o homem é um ser que “projeta tornar-se Deus”.
A linha de pensamento de Sartre se une com a anarquista quando o anarquismo defende a ideia de que sem as privações das intituições, a sociedade seria bem mais evoluída, solidária e igualitária, e do outro lado quando o existencialismo apoia que o homem tem que ser livre para decidir o que é e o que não é bom para si mesmo. Portanto, se o homem for livre para decidir suas próprias escolhas e determinar suas próprias limitações, não precisa de um governo para fazer isso por ele.
Sendo assim, o que seria dos humanos se tivessem a vida, apenas a vida pronta para ser vivida, e não as ideias, que os permitem pensar em infinitas possibilidades e distinguir o que é bom ou não para eles? Com as ideias, os humanos têm a consciência de que tem uma essência e assim sabe o que ele é. Sem as ideias, os humanos apenas viveriam da forma que outros determinassem ou pensassem que determinassem. Não teriam o poder de refletir e filosofar sobre assuntos que acham que não estão certos e que gostariam de mudar. Portanto, os humanos não seriam nada se tivessem a vida, só a vida, e não as ideias, pois viveriam apenas por viver e não para buscar algo que os insatisfaça e que queiram mudar.

Um comentário:

Anônimo disse...

AS IDÉIAS SÃO JANELAS QUE SE ABREM NA MENTE,A GRANDE QUESTÃO É OLHAR ATRAVÉS DELAS E TRAZER ATRAVÉS DA AÇÃO UMA NOVA REALIDADE A TONA.
ADOREI SEU TEXTO , E COMO DIRIA O MESTRE SARTRE "O IMPORTANTE NÃO É O QUE FIZERAM DE NÓS, MAS O QUE FAZEMOS COM O QUE FIZERAM DE NÓS"

VICEVERSANO AND