terça-feira, 2 de março de 2010

Édouard Boubat

Édouard Boubat
O fotógrafo que nos faz ver através de suas lentes
Por Fernanda Machado




 O fotógrafo francês Édouard Boubat, nasceu em 1923, em Paris. Seu interesse pela fotografia começou aos 23 anos quando o mundo estava vivenciando a Segunda Guerra Mundial. Com a paixão por sua cidade natal, Boubat passou a registrar a vida cotidiana na capital francesa do país pós-guerra. 
Aos 28, atingiu o nível profissional quando participou de uma exposição coletiva na livraria Hune em Paris, ganhou o Prêmio Kodak do Salão de Fotografia de Paris e em seguida foi chamado para ocupar o cargo de fotojornalista na luxuosa e profusamente ilustrada Revista Réalités. A revista era politicamente posicionada ao centro embora fosse reputada de direita e era conhecida também como “observatório do mundo”, pois a televisão estava  dando os seus primeiros avanços e as viagens não eram comuns para a sociedade propria-mente dita. A partir desse momento, a vida de Édouard Boubat foi tomada por viagens para diversos países em todos os cantos do mundo e, consequentemente, seu trabalho passou a ser comparado ao de talentosos profissionais humanistas da época, como Robert Doisneau e Willy Ronis.
Por toda a sua jornada, Boubat presen-ciou momentos únicos e indescritíveis, mas que com apenas um click nos faz parar e notar cada detalhe para tentarmos sentir, entender e expressar o que  vemos. Assim, há quem diga que suas fotografias são uma celebração da vida, já que ele consegue passar para a foto tudo o que viveu e sentiu no exato momento da captura.

Boubat: “- Borges escreveu: ‘Cada homem que lê Shakespeare é Shakespeare.’ Quando você ouve Mozart, você é Mozart. Lembro estas palavras de Mozart: ‘Os únicos momentos toleráveis em minha vida são quando eu componho.’ Ele tinha dívidas, não tinha o que comer, mas quando estava compondo ele era mais do que Mozart, estava em um outro estado. Se você quiser, este é meu segredo. A parte mais bonita da fotografia é o momento de disparar, o momento em que faço um retrato, ou uma paisagem, então Boubat já não existe. Este é o segredo: não há nenhum Boubat, nenhuma cidade indiana, nestes breves momentos nos transformamos em parte de um todo, já não estamos separados da paisagem, da pessoa na nossa frente. Isso é porque eu não observo os detalhes: porque não há nenhum detalhe, eu não os vejo.” Paris, julho de 1986



E é com essas palavras que Boubat consegue prender a nossa atenção e nos força a tentar entender o que ele estava pensando no momento. O que a paisagem estava proporcionando ao fotógrafo e em qual sintonia os personagens estavam na hora da captura. Quanto mais pensamos e analisamos, mais ficamos curiosos para nos conectarmos àquele momento. 
    Conseguimos realmente perceber que em suas fotos, Édouard Boubat sai de si e liga-se com o que está capturando.
    Boubat é muitas vezes descrito como o "fotógrafo da felicidade" e "correspondente da paz ". Jacques Prevert, poeta e roteirista francês, em uma exposição em Paris se referiu a Boubat dizendo: "O que mais? Existem apenas ver o que Boubat vê e nos faz ver. Nas terras mais distantes ou grandes desertos do tédio, ele procura e encontra um oásis" .
     Boubat deixa sua mente e sua ideia o levar. Sua teoria era de que o fotógrafo é quem vê, conta o que vê e tem o objetivo de fazer com que o outro veja através da lente dos seus olhos e criar uma linha paralela entre a impessoalidade e os sentimentos. Para tudo isso acontecer, o fotógrafo precisa ser único e ao mesmo tempo ter suas particularidades para permanecer insubstituível e entrar em um nível universal.
      Para ele, a opção de não aparecer no momento da fotografia era como se tirasse sua própria roupa para ser mais um objeto na cena. Exatamente por ser mais um objeto, ele era capaz de mostrar descrições enxutas e exatas do que estava à sua volta. Estava totalmente no tempo presente e toda vez que olhamos uma fotografia dele, parece que nos transportamos para o exato momento e local da captura e termos a sensação de também estar vivendo aquilo e passamos assim, a fazer parte também da foto.
    E é por essas e outras que Édouard Boubat ganhou ao longo de sua vida grandes prêmios como o
Prix du Livre (1977), Grand Prix National de la Photographie (1984) e Grand Prix de la Fondation Hasselblad (1988).


      Na França, os trabalhos de Boubat são separados em dois temas principais. Primeiro a “felicidade imprudente” com imagens de cultos e celebrações que nos transmite o sentimento do personagem principal da imagem, crianças despreocupadas de shorts rasgados que brincam nas ruas ou na neve dos Jardins de Luxemburgo, os quais nos faz abrir um sorriso no canto da boca e chegar a ouvir suas risadas por estarem realmente se divertindo, e de amantes desassossegados, entrelaçados, sozinhos no mundo, que nos mostra que todos temos um mundinho particular e só participa quem realmente desejamos. 
      E na segunda, mas não menos importante categoria, a das mulheres. Sua primeira musa foi Lella. Longos cabelos ondulados ao vento, blusa transparente e com um olhar sonhador que nos faz imaginar no que ela estava pensando, o que ela estava fazendo ali, se estava esperando ou avistando alguém e o que ela almejava naquele exato momento. 
    Com Boubat, nossa mente viaja através do tempo e ultrapassa qualquer barreira de espaço. Podemos ficar horas observando suas obras, e exercitando o prazer de imaginar o que o outro pensa e o por que de suas expressões faciais e corporais.


"Uma foto é como um beijo roubado. De fato, um beijo é roubado sempre, mesmo se a mulher estiver consentindo. Com uma fotografia é o mesmo: roubado sempre, e ainda ligeiramente consentindo.” - Édouard Boubat 

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