quarta-feira, 13 de abril de 2011

Porque ‘não’ não é resposta


Por Fernanda Fioravanti Machado

Há duas maneiras de assistir a uma palestra: a primeira é ir com o intuito de apenas escutar e absorver algo que é transmitido pelo palestrante e a segunda é entrar no recinto com um caderno e uma caneta em seus devidos postos para que a qualquer momento sejam disparados preenchendo  páginas como se tivessem vida própria com conteúdo que lhe for de maior importância. E foi dessa última maneira que entrei na sala de Fotojornalismo do Centro Universitário FIEO para assistir à palestra do fotógrafo José Luis da Conceição. Porém, Conceição não tinha os mesmos planos que eu.
Ao começar a narrar sua própria jornada, comecei a fazer jus ao papel e transbordá-los de anotações desde pequeninos, porém fundamentais, acontecimentos como o seu primeiro registro feito com a câmera da tia ou como (tentou) lidar com a frustração de ter queimado todas as fotos de sua formatura. Aos poucos, os episódios começaram a ficar mais próximos da realidade de jovens ingressantes no mercado - e ainda fico me questionando por que razão tive minha atenção completamente presa às suas palavras quando relatou seus primeiros ‘nãos’ ditos de tantas maneiras distintas...
E os fatos se desenrolaram das formas mais inusitadas e surpreendentes possíveis, trazendo até o professor de Fotojornalismo da UniFIEO, Edu Garcia, às puras gargalhadas, mostrando aos futuros focas e publicitários que as situações mais loucas e inesperadas acontecem sim nas melhores famílias. Porém, Conceição também mostrou que em qualquer ramo de Comunicação, não importando se é o jornalismo, se é a fotografia, a publicidade, a assessoria ou qualquer outra, nunca se pode aceitar um puro e simples ‘não’ como resposta final.
E isso ficou bem claro a todos ao contar suas experiências como quando trabalhava na Folha de SP e permaneceu dois meses lembrando Bóris Casoy que gostaria de aprender algo a mais já que possuía um diploma de fotógrafo e precisava colocá-lo em prática. Ou quando finalmente chegou ao ramo de freelancer ainda na Folha e permaneceu por lá durante dois anos fazendo pequenas pautas e até quando chegou a ficar três meses atrás do filho do dono de O Globo lembrando-o que também estava ali presente para ser contratado a um cargo, até então em sua opinião, merecido. Mas as respostas eram sempre as mesmas: “Poxa Conceição, você é muito novo ainda. Procura algum jornal de bairro”, e claro que nem sempre ou quase nunca com toda essa cordialidade.
Cheguei a achar, por um instante, que o fotógrafo havia desistido dessa carreira por um tempo quando disse que começou a trabalhar em um banco. Porém, sua última cartada - já que não ia perder nada mesmo - foi mandar um bilhete ao Otávio pedindo uma carta de indicação para que pudesse finalmente ingressar no que tanto almejava. Semanas depois, coincidentemente no dia 1o de Abril, recebeu a notícia de que havia chegado o recado que tanto esperava, e não... Dessa vez não era mentira e muito menos uma proposta de um jornal de bairro. Foi assim que Conceição trabalhou por dez anos no Notícias Populares e depois passou pelo O Globo e Estadão. 
E foi em meio a todas essas histórias incríveis que, quase ao fim da palestra, olhei para minha folha e notei espantada que não havia mais do que meia página com alguns rabiscos. Mas como? Eu lhe digo como. Além do profissional saber mostrar sua habilidade natural com a fotografia, com a comunicação e ainda mais com estudantes, simplesmente hipnotizou a todos da sala e conseguiu o que queria: fez com que esquecessem seus lápis e canetas para apenas acompanhar o desenrolar de sua trama pessoal. Olhei em volta e reparei que não havia sido apenas eu a coadjuvante e ao mesmo tempo plateia. Não avistei mais ninguém anotando nem uma sentença. Apenas apoiados com as mãos no queixo ou a ponta da caneta entre os lábios e os olhos vidrados naquele fotógrafo esperando o próximo capítulo.
Não me surpreendi e reconheci: José Luis da Conceição é um exemplo a ser seguido não só por sua carreia bem sucedida, ou pelas dezenas de elogios a ele atribuídos ou até pela flexibilidade e habilidade em lidar, transparecer e transmitir conhecimento aos futuros profissionais, mas sim por ter conseguido passar pela etapa mais difícil e interminável de um comunicador... Os ‘nãos’.

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