sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ela pode!

É cor de rosa choque


Ela odeia jornalistas, ama qualquer animal, capricorniana sarrista, rainha, mãe, tia e – agora – avó do rock. Mesmo sempre escutando que mulher não nasceu para fazer rock, a escancaradora de tabus ama ser quem ela é. Lavar cuecas não é o seu forte e esconder os mistérios do mundo rosa é o que Rita Lee sabe fazer melhor.
Conheci Rita pelos meus pais. Nasci escutando seus maiores e menores sucessos. “Doce Vampiro” é a trilha sonora do amor deles e esse ano “Ovelha negra” se tornou a minha, pois escolhi me arriscar a ser uma jornalista que está o tempo todo em contato com todo o mundo, ao invés de ser uma executiva que só sabe o caminho do escritório.
Rita Lee me fascina a cada verso. Há sempre uma faixa que se encaixa perfeitamente com alguma fase que estou vivendo. Mesmo ela ter confessado no DVD Biograffiti gravado em 2007, que muitos de seus sucessos foram escritos sob efeito de drogas, acredito que foram nesses momentos que seus sentimentos ficaram à flor da pele e ela soube transcrevê-los fielmente em canções.
Já fui a dois shows dela. Um que aconteceu no Parque Vila Lobos, mas por eu ser muito pequena na época lembro-me de poucas partes do show, do meu pai levantando a capa do vinil dos Mutantes e ela olhando e acenando para ele. O outro foi em 2007 no Espaço HSBC em São Paulo. Foi simplesmente perfeito. Dei-me ao direito de cantar, berrar, chorar e ir perto do palco quando começou a cantar “Agora só falta você”. As duas horas de duração pareceram 30 minutos. E no final do show ainda conheci a assessora de imprensa do HSBC. Rita sempre me proporcionando inesquecíveis momentos, mesmo que indiretamente.
Por eu ter crescido escutando todas as bandas que estouraram nas décadas de 60 a 80, minha bagagem de conhecimento musical vai além da de adolescentes que nasceram no mesmo ano que eu, 1991, que só escutaram músicas da própria época. Adoro ter tido a honra de ter um pai que era vocalista de uma banda chamada Nó Virgem, usava calça rasgada e cabelo comprido, e uma mãe que, na verdade, gostava no guitarrista do grupo, mas por obra do acaso viajaram pro mesmo lugar e estão juntos até hoje depois de 31 anos.
Corinthiana roxa - como eu – Rita sempre aprontou as suas. Desde a época de escola, quando colocou fogo no teatro da escola e fez xixi dentro do sapato das colegas de classe antes delas voltarem da Educação Física até quando, por beber, comer, fumar e respirar Beatles lambeu a maçaneta da porta que um deles colocou a mão.
Filha de americano calculista com italiana mais católica que o Papa, se orgulha dos pais e admite que não poderia ter nascido em outra família. Trocou de banda umas dez vezes e foi expulsa dos Mutantes com a desculpa de que por ser mulher não serviria pra fazer o rock que eles queriam. Viveu na época da forte ditadura, mas confessa que não estava se importando para o que estava acontecendo lá fora, pois dentro dela estava ocorrendo uma explosão dos melhores e mais distintos sentimentos e o que prevalecia, por incrível que pareça, era a liberdade. Foi presa por porte ilegal de drogas e não se arrepende. Conheceu Elis Regina e Leila Diniz e o encanto foi recíproco de ambas as partes. Sobreviveu 40 anos de música e se sente extremamente privilegiada por isso.
Hoje Rita Lee está fazendo uma turnê do DVD Multishow pelo Brasil. O show que ela iria fazer em São Paulo em outubro, no qual o meu ingresso já estava comprado, foi cancelado de última hora. Não duvido que ela volte e faça o que ela está nos devendo, pois como ela mesma disse: ama o Brasil todo, mas não consegue pedir divórcio dos paulistas e dos cariocas.
Pretendo ir a mais shows, comprar mais futuros CDs e DVDs, e não parar de escutar a todo momento qualquer faixa de qualquer álbum. Para ela, a vida sempre vai ser uma grande brincadeira e eu também vou querer brincar.
Fernanda Machado

Um comentário:

Danii disse...

Fê adorei o textoo. :)
ta escrevendo muito bem, parabéns!
bjoo