terça-feira, 1 de março de 2011

- Pois é.. As férias definitivamente acabaram e, contrário de muitas faculdades, a FIEO já está com tudo.
Como já estou fazendo outros trabalhos, que mais tarde postarei aqui (:, vou postar um que estava perdido em meio as papeladas do 4o semestre.



ORGULHO E DESESPERO


Por Fernanda Fioravanti Machado
Confirmado até pelo roteirista Bráulio Mantovani como “muito melhor que o primeiro”, Tropa de Elite 2 superou as expectativas e segue para a quinta semana em cartaz aumentando cada vez mais a chance de ultrapassar os 9,1 milhões de espectadores de Avatar e tornar-se, assim, o filme mais visto de 2010. 
Tropa de Elite 2, dirigido por José Padilha e é protagonizado por Wagner Moura que interpreta novamente o Capitão Nascimento. Dez anos mais velho, Nascimento sobe para Coronel e suas novas funções ajudam o BOPE crescer e, consequentemente, prejudicar o tráfico de drogas. Mas o que ele não percebe é que ao fazer isso está ajudando policiais e políticos corruptos com interesses eleitoreiros. Como na chamada do filme, os inimigos de Nascimento agora são outros. E pior: muito mais perigosos.
Moura continua roubando a cena. O primeiro filme foi rodado tendo seu personagem como um mero coadjuvante que só aparecia na tela aos 50 minutos do longa. “Ele era um personagem menor. Só que, graças à performance do Wagner, o Capitão Nascimento cresceu muito”, disse o roteirista Mantovani ao site da revista VEJA. O Tropa 1 foi escrito tendo como protagonista e narrador o personagem do André Mathias, interpretado por André Ramiro. Desde o início, a direção do filme sabia que poderia não dar certo e foi o que aconteceu. Mantovani afirmou que não se arrependeu, mas sim aprendeu com os erros do primeiro para estourar no segundo. 

Sem dúvidas que direcionar o foco na história do Capitão Nascimento daria um rumo diferente à trama. Dessa forma, ela transcendeu o universo da polícia para chegar à segurança pública. Os conflitos pessoais de Nascimento, que no primeiro filme eram periféricos e agora se tornaram a espinha dorsal junto aos seus conflitos profissionais tornaram o filme mais complexo e dramático. E mais ainda, ganhou a camada nova da política. 
O que vemos na tela se dá única e exclusivamente através do discurso do capitão Nascimento. São dele as primeiras palavras (“O Rio de Janeiro tem mais de 700 favelas...”) e as últimas (“Eu ia voltar para a minha família sabendo que tinha deixado alguém digno no meu lugar”). Ele começa com um aspecto documental, explicitando a realidade na qual vai inserir o espectador, para ir aos poucos mudando a narração à subjetividade absoluta.
Se Nascimento expõe os acontecimentos, detalha os esquemas de corrupção policial, debocha da classe média, ele o faz com o intuito de nos mostrar a sua angústia pessoal: a sua vontade de arranjar alguém que o substitua no Batalhão de Operações Especiais (Bope). E para isso, a direção do filme não tenta de forma alguma embelezar cenas de violência deixando a brutalidade do ato atingir quem assiste. 
[Processo contrário do que acontece em Batismo de Sangue – filme nacional recente e que exibe cenas pesadas de tortura. O diretor Helvécio Ratton parece fazer questão de expor os torturados filmando-os na maioria das vezes com ângulos fechados, a lente colada em seus rostos e olhos e enquadrando-os em contra-plongée apenas aumentando o tom sensacionalista das cenas.]
No filme, a violência e a corrupção na polícia continuam em alta como no primeiro, porém, na segunda edição, os assuntos são mais ambiciosos e assustadores. Ao invés de colocar a culpa do crescimento do tráfico nas mãos da elite que compra e financia a droga no país mesmo que utilizando quantidades para “consumo próprio”, a trama mostra que a raiz do problema está bem mais em cima: na política. Justamente nas pessoas que afirmam querer e ter planos para acabar com a venda e consumo de substâncias ilícitas. São eles que usufruem de qualquer situação para conquistar dinheiro e visibilidade, recebendo o apoio de demais políticos tornando o sistema – tão questionado e criticado - cada vez maior. 
Para muitos, Tropa de Elite 2 será o blockbuster do ano (filme que por ser de excelente qualidade, leva milhões de pessoas ao cinema, rendendo muito dinheiro em retorno aos estúdios, patrocinadores, etc), com direito a efeitos especiais importados, cenas de ação mirabolantes, frases de efeito e um enredo mais que inteligente. Mas por trás disso, há o retrato frio e realista da nossa sociedade. Um lugar que não mede esforços para arrancar dinheiro de qualquer meio e se pessoas demais estiverem sabendo dos atos corruptos, a queima de arquivo é colocada em prática sem o menor receio ou culpa. 
E é em meio a essas verdades que os demais países questionaram Padilha e Wagner Moura sobre a violência, o tráfico e a pirataria no Brasil. Esses foram os principais temas abordados em entrevista para a imprensa estrangeira em outubro deste ano. Os jornalistas perguntaram pouco sobre o filme, mas bombardearam o diretor e o ator com perguntas sobre a veracidade dos fatos mostrados no filme. Uma delas foi se a trama tinha intenção de provocar uma mudança na situação da segurança no Brasil, e a resposta muito cuidadosa de Padilha afirmou que não acha que seu trabalho tenha o poder de mudar a realidade, mas gostaria que fosse assim, porque a segurança não tem no Brasil a atenção que deveria ter. 
Outro ponto que foi bem insistente por parte de jornalistas portugueses é se a imagem de um Rio de Janeiro violento e corrupto não poderia interferir negativamente no turismo brasileiro, justamente no momento mais promissor, com a realização da Copa do Mundo de 2014. O diretor de Tropa respondeu dizendo que seu compromisso é “com as pessoas que vão assistir ao filme, não com o turismo”, e foi ajudado por Wagner Moura que complementou explicando que o filme retrata a realidade brasileira porque Padilha é documentarista. “Aqui dentro o filme tem a identificação do brasileiro que conhece este quadro, mas lá fora pode provocar perplexidade”, respondeu o ator. 
Sendo assim, com todas as informações que recebi antes de assistir ao filme e depois com todas as críticas expondo pontos cruciais da trama, quando saí da sala de cinema ao som de “Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo, sem saber o calibre do perigo, eu não sei d’aonde vem o tiro” (O Calibre – Os Paralamas do Sucesso) fui tomada por duas sensações: a primeira de entusiasmo por ter um filme nacional se tornando um marco importante na história do cinema brasileiro, já que pela primeira vez um filme sobre violência, drogas e política é narrado do ponto de vista de policiais. E segunda de desespero momentâneo pelo filme ter escancarado ao país uma realidade que nem todos enxergam ou não querem enxergar: vivemos em um país violento e há pessoas que tomam atitudes que jamais nos passariam pela cabeça. E o mais sufocante... Não temos para onde fugir. 

Um comentário:

Dario Façanha disse...

Uau!! O texto ficou muito legal. Deu pra obter a nota máxima no trabalho? :)