Por Bruna Viel e Fernanda Machado

geração romântica.
Após se formar passou a advogar, porém desistiu da carreira e se dedicou ao jornalismo criando o jornal “O Distrito de Évora” para criticar a política e depois colaborou na “Gazeta de Portugal”. Suas primeiras experiências literárias começaram durante suas viagens como jornalista para diversos países escrevendo e publicando as impressões dos lugares. Teve participação fundamental na implantação do realismo em Portugal, embora seus primeiros livros tenham mais caracteristícas naturalistas, como “O Crime do Padre Amaro”, o qual escreveu a primeira versão quando viajou para os EUA, pois estava trabalhando como cônsul em países como Havana, Cuba, Inglaterra e Paris onde morreu em 1900.
A obra teve sua versão definitiva publicada em 1880 buscando retratar a realidade de forma objetiva denunciando a corrupção dos padres, que manipulavam a população em prol da elite, e polêmica do celibato clerical. A narrativa foi escrita em terceira pessoa e o narrador é onisciente - conta a história com conhecimento dos pensamento e das ações dos personagens - facilitando o processo de distanciamento entre o autor e a obra. Fica claro que o autor apresenta uma postura anticlerical, retratando os padres e beatas com ironia e adjetivos rudes, o que ocasionou na proibição do livro em muitas escolas de Portugal e do Brasil durante décadas.
O enredo conta sobre Amaro que após perder os pais vai para um seminário por desejo de sua protetora, a Marquesa de Alegros. Assim que vira padre, tem que assumir a paróquia da freguesia da Sé, em Leiria. Na província é acolhido pela senhora Joaneira, que o hospeda em sua casa. A anfitriã tem uma filha chamada Amélia que acaba despertando o desejo de Amaro. Devido a personalidade fraca e facilmente influenciável de ambos, os dois se envolvem desencadeando a traição da jovem com seu futuro marido, João Eduardo.
Amaro estranha o fato de seus colegas acharem normal sua relação com a beata e descobre que até seu mestre, cônego Dias, mantém um caso amoroso com a mãe da jovem. O padre se torna cada vez mais inescrupuloso deixando-se levar apenas pela atração sexual até que Amélia engravida e é mandada para a roça para evitar um escândalo. A jovem morre no parto e seu filho é enviado a uma ''Tecedeira de anjos'', mulher que mata recém nascidos indesejados.
Diante do que foi apresentado no livro, os traços naturalistas ficam evidentes ao se analisar os personagens patológicos, que ilustram o homem em sua parte mais animal, portanto instintiva, e o tema abordado, já que em outros movimentos literários, como por exemplo o romantismo, não se falava sobre assuntos polêmicos como o celibato. O difícil é definir se o título da estória refere-se ao crime de assassinato cometido pelo padre a seu próprio filho ou a quebra do seu voto de castidade.
Sendo assim, o leitor consegue entender e imaginar como era a sociedade na época em que Eça de Queirós escreveu a obra. O mundo estava passando pela grande Revolução Industrial sofrendo mudanças constantes nos campos políticos, sociais e econômicos. Como consequência, a area da cultura também, tendo os ramos artísticos, musicais e principalmente literários interferidos.
A literatura passou de uma escola literária muito marcante, o Romantismo, para o Realismo-Naturalismo, que foi uma fase acentuada pela expressão das ideias de forma direta.
Os grandes escritores, como Eça, ao ter alguma crítica, transformavam as pessoas e situações reais em personagens escrevendo livros como uma forma da sociedade ler e saber como tudo realmente era.
Portanto, não há melhor forma de entender um período a não ser lendo sobre pessoas que o viveram e suas ideias, críticas e sugestões. Por conseguinte, a leitura de “O Crime do Padre Amaro” se tornou uma peça fundamental para o entendimento da sociedade na época da Revolução Industrial, da transição dos movimentos literários, das consequências de um suposto crime, e principalmente do conhecimento dos diferentes tabus, costumes, ideologias e crenças presentes no período.
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